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Conheça as 13 receitas ganhadoras do concurso Sabores Migrantes Comunitários 2023

Em 18, fev 2024 | Em Destaque, EDITAIS, Notícias |

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No dia 15 de janeiro, foi divulgado o resultado da edição 2023 do concurso Sabores Migrantes Comunitários. Esta convocatória, realizada anualmente desde 2019, é uma iniciativa conjunta de três programas de cooperação vinculados à Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB): IberCultura Viva, Ibercocinas e Iber-Rutas. Este ano, 13 receitas e práticas culinárias foram selecionadas para receber o reconhecimento como “Boa prática de cozinha migrante comunitária ibero-americana” e um prêmio de US$ 600.

A seguir, apresentamos as receitas vencedoras, suas histórias e modos de preparo. Bom proveito!


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1. Nome: Marisabel Figueras

País de nascimento: Venezuela

País de residência: Paraguai

*Nome da receita: Hallacas de Maita

Hallaca é a preparação culinária mais representativa da culinária natalina venezuelana. Como diz Marisabel Figueras em sua descrição da prática culinária, é um preparo “complexo, trabalhoso e nutricionalmente completo” que teve uma transição importante em relação ao espaço e ao tempo em que é consumido e que tem muitas conotações afetivas para os venezuelanos .

“Ela ganhou o posto de rainha do Natal em todo o país e é um ícone de identidade na cozinha nacional, pois incentiva todos os familiares a participarem de sua preparação, com cada um/a fazendo uma tarefa de acordo com a idade. O preparo da hallaca é um momento de partilha que fortalece os laços familiares e nos permite continuar com essa tradição”, destaca a venezuelana, que reside na cidade de San Lorenzo, no Paraguai.

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Segundo ela, as hallacas de Maita são importantes na comunidade paraguaia porque permitem o intercâmbio cultural, são uma forma de mostrar suas tradições e parte de sua história. “O preparo das hallacas é o momento certo para compartilhar as refeições com outras culturas e pode servir para estreitar laços”, afirma.

Marisabel ressalta que a origem das hallacas não é muito conhecida. Uma das teorias que supõe o seu surgimento diz que durante os anos da independência da Venezuela, nas festas das famílias ricas, preparavam-se copiosos banquetes e que as sobras destes eram entregues aos escravos, que se aproveitavam deles misturando-os com massa de milho e embrulhando-os em folhas de bananeira e depois cozinhando-os em água fervente.

Este prato tradicional venezuelano é feito com uma massa de farinha de milho temperada com frango ou caldo de galinha colorido com onoto ou achiote, recheada com um guisado de carne bovina, suína e de galinha ou frango. Adicionam-se uvas, passas, azeitonas, alcaparras, páprica, cebola, alho, cebolinha, alho poró, picles, etc. Depois de envoltos em folhas de bananeira em formato retangular, são amarrados com um barbante e imersos em uma panela com água fervente até ficar cozido.

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Conheça a receita

*Comunidade com a qual a prática será compartilhada: A prática culinária será realizada na cozinha da casa e levada ao centro da cidade de Assunção, onde se encontram muitas pessoas da etnia Guarani. A intenção é oferecer as hallacas de Maita a cerca de 30 a 40 pessoas que passam o dia nas praças do centro da cidade, algumas delas em situação de rua.


2. Nome: Pamela María Quesada Palência

* País de nascimento: Guatemala

* País de residência: Argentina

*Nome da receita: “El Chuchito

“Nicalteca” (nicaraguense-guatemalteca) de raízes mizquito-maias, Pamela Quesada é uma migrante que vive na selva paranaense, na Argentina. Trabalhadora cultural independente no município de Puerto Piray (Montecarlo, Misiones), gerencia projetos culturais regionais e sustentáveis ​​para o Ponto de Cultura CERNE Vida y Monte, nas áreas de meio ambiente e recuperação de materiais, gênero e diversidades, povos indígenas e recuperação de identidade local.

Em sua postulação, Pamela Quesada afirma que os sabores migrantes viajam com o/a viajante. “Eles descobrem e se metem em bolsos, envelopes, mochilas, malas, caixas… Em forma de receita dão continuidade à vida dentro de panelas e frigideiras”, escreve. “El chuchito”, o sabor migrante que ela apresenta neste concurso, vem dos antepassados ​​maias. “Conseguiram dar continuidade à semente de milho e ao conhecimento tecnológico ligado ao desenvolvimento desta semente, nas suas versáteis receitas: milho chicha, milho atol, milho tortilla, milho tamal… Ka’i Ku’a é o equivalente em Misiones para o tamal ou chuchito”, detalha.

“Como na Guatemala, adiciona-se água morna e sal à farinha de milho até virar ‘chicle’ ou chirle, ervas aromáticas, queijos e também molhos de tomate vermelho e pimentas secas. Quem quiser completo acrescenta feijão ou carne. Em seguida, é embrulhado na mesma tuza ou chala de onde foi retirado, e um fogo é aceso como oferenda aos deuses maias, para ser fervido.”

Segundo ela, a conservação desta receita contribui para revalorizar os costumes ancestrais de aproveitar e cuidar do ambiente natural e dos recursos do território Piray km18, em Puerto Piray. “Essas receitas, além de transmitirem sabores e preparos, também transmitem conhecimentos e práticas, como a conservação de sementes nativas para uma alimentação saudável, soberania alimentar e ambiental”, ressalta.

A área Piray km 18 é um território que era habitado por comunidades guaranis hoje deslocadas e, posteriormente, por migrantes, em sua maioria paraguaios e brasileiros, organizados em grandes clãs com sobrenomes predominantes. Pelas características territoriais (ruas de terra, apenas duas viagens de ônibus por dia, etc) e pela falta de dinheiro, sua principal fonte de subsistência eram as culturas para autoconsumo. “A semente de milho que plantamos tem pelo menos 50 anos e sua colheita também alimenta animais de fazenda. A farinha de milho é produzida localmente e hoje é utilizada em preparações como a sopa paraguaia”, acrescenta.

⇒Conheça a receita:

* Comunidade com a qual a prática será compartilhada: A prática será compartilhada no Ponto de Cultura CERNE Vida y Monte. Centro comunitário localizado em Piray km 18, às margens do córrego Piray Guazú, referência territorial em meio ambiente, cultura e turismo, este Ponto de Cultura desde 2008 busca conscientizar e capacitar moradores e/ou visitantes da comunidade por meio de atividades culturais, esportivas, educativas e turísticas sobre hábitos e costumes ligados ao bom uso do espaço e dos recursos naturais.

A prática será realizada como atividade complementar para 100 alunos do ensino fundamental em um dos dias programados do percurso educativo Ecopaseo, onde são abordadas unidades produtivas do meio rural (como vermicultura e apicultura), popularizando o conhecimento científico e sensibilizando a importância de cuidar de seus recursos e território.


3. Nome: Graciela Vicente Ráfales

* País de nascimento: Espanha

* País de residência: Chile

*Nome da receita: Paella

Graciela Vicente Ráfales vem de uma cidade chamada Nonaspe, localizada na província de Zaragoza, em Aragón, nordeste da Espanha. Devido à sua proximidade com a Catalunha, sua língua materna é o catalão. Apaixonada pela cozinha com cogumelos e pela natureza, ela faz receitas saudáveis ​​e inovadoras com alimentos naturais na cidade de Talca, na região de Maule, no Chile, onde criou família e mora há sete anos. Lá ela se dedica à micogastronomia (cozinha com cogumelos) e é fotógrafa de gastronomia. (Alguns de seus trabalhos e ideias estão no Instagram: @recetasysetas)

Nesta quinta edição de Sabores Migrantes Comunitários, Graciela apresenta uma receita de “paella fungi” com ingredientes representativos do Chile. É um arroz tipo paella com caldo de cogumelos, basicamente uma paella que usa mote de trigo (produto típico chileno) em vez de arroz. “Curiosamente, paella, em valenciano ou catalão, significa frigideira. É uma frigideira plana, larga e baixa, com duas alças. No Chile existe o que chamam de paila. É uma frigideira plana e baixa com duas alças, embora geralmente bastante pequena. Paella e paila têm a mesma origem e significado”, comenta.

Graciela diz que as primeiras paellas surgiram por volta do século XV, época em que a Comunidade Valenciana pertencia ao Reino de Aragón. “A típica paella valenciana tem origem humilde e camponesa. Preparavam uma receita simples com os ingredientes que tinham à disposição, como carne de caça, aves, alcachofras, garrofó (espécie de feijão tenro), bajoqueta (feijão verde), etc. Cozido no fogo de uma fogueira. No litoral, preparavam uma versão com o que tinham, marisco mediterrânico, camarão, entre outros. Claro que o arroz não pode faltar nas duas versões, o tipo que ali se cultiva, o arroz bomba. Um grão redondo, com muito amido e que absorve bem os sabores”, afirma.

Esta receita, com o tempo, tornou-se popular e, desta forma, da Comunidade Valenciana espalhou-se pelo resto do país. Cada região ou área incluía os alimentos que tinham à sua disposição e cozinhavam-nos como sabiam ou podiam. Algo que os valencianos nunca aceitaram e por isso chamam a esse tipo de paellas ‘arroz com coisas’. Também não gostam da ideia de mistura de paellas, carnes e frutos do mar, consideram que esses dois produtos não devem ser misturados. Hoje em dia, na Espanha, a paella é uma receita tão conhecida e difundida que é um prato que não pode faltar em nenhum restaurante turístico, pois é um emblema da gastronomia espanhola”, afirma.

Em Nonaspe, onde vivia na Espanha, para encerrar as grandes festas ou em San Cristóbal ou para grandes confraternizações, preparavam-se enormes paellas, para cerca de 300 comensais. “Nos reuníamos na ermida, um lugar lindo, tranquilo, idílico, localizado a 1 km de Nonaspe. Estávamos em comunidade e todos compartilhávamos aquela paella fantástica que a organização preparava. Outros dias, quando fazíamos, por exemplo, aniversários ou outra comemoração que muita gente comparecia, era preparada uma paella para todos, com muitos frutos do mar, para comemorar. Durante a semana a minha mãe preparava paella com coelho criado em casa e caracóis da serra, mais baratos, mas igualmente deliciosos.”

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Conheça a receita

* Comunidade com a qual a prática será compartilhada: Nesses anos em que mora no Chile, Graciela Vicente estabeleceu vínculos com o Centro Cultural Municipal de Talca, que a conectou com a cultura e os agentes culturais da região, além de servir de apoio em seu processo de integração. “Sinto que lhes devo muito, por isso decidi realizar esta prática culinária nas suas instalações, pois seria uma forma de retribuir, de alguma forma, um pouco do favor oferecido”, comenta. “(…) Com a ajuda de pessoas do centro cultural, amigos e familiares iremos preparar a receita, pois espero que mais de 100 pessoas possam assistir à atividade.” A atividade será aberta à comunidade.


4. Nome: Lourdes Fátima Díaz Chávez/Grupo San Baltazar de Kamba Cua

* País de nascimento: Paraguai

* País de residência: Paraguai

*Nome da receita: Kishima

Afroparaguaia, Lourdes Díaz trabalha na Comunidade Kamba Cua, em Fernando de la Mora, a 10 km de Assunção, Paraguai. A comunidade afrodescendente foi criada com a chegada, em 1820, de um grupo de homens e mulheres afrodescendentes que acompanhavam o general José Gervasio Artigas. A receita que apresenta nesta convocatória, em nome da Associação Grupo San Baltazar de Kamba Cua (que inclui Adolfo Bogarin, Cesar Chavez Diaz, Cecilia Leiva e Lorena David), é a de kishima, prato que seus antepassados ​​​​preparavam na comunidade e que só lá é feito e degustado até hoje.

Kishima é um alimento tradicional da comunidade Kamba Cua que perdurou ao longo do tempo. Feito com mandioca cozida e coco ralado ou moído, pode ser doce ou salgado e é ideal para o café da manhã ou lanche ou para acompanhar o almoço ou jantar. Além de 1 quilo de mandioca cozida e bem macia, a receita leva 300 gramas de coco paraguaio moído, 300 gramas de queijo paraguaio, 2 ovos e sal a gosto. É necessário um palito de cerca de 70 cm para grelhar em fogo moderado.

“Esta receita ancestral é de extrema importância na nossa comunidade porque representa os nossos saberes, os nossos antepassados, representa para nós as nossas avós, porque sempre fizemos com elas e provamos. É uma receita que acreditamos ter vindo dos nossos antepassados ​​quenianos. É o sabor tradicional da comunidade, está sempre presente nos nossos eventos tradicionais. Kishima, sabor de Kamba Cua”, diz Lourdes.


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Conheça a receita

* Comunidade com a qual a prática será compartilhada: Comunidade Kamba Cua, centro comunitário. Quantidade aproximada: 50 pessoas. “É um lugar muito importante para nós porque em 1999 recuperamos 1,6 hectares de terras para nossa comunidade e a construção do centro comunitário, que fica no coração da comunidade afrodescendente, fez parte desse projeto”, diz Lourdes.


5. Nome: Danilsa Esther Granados De Díaz/ Nelly e Argenis Madroñero

* País de nascimento: Colômbia

* País de residência: Chile

*Nome da receita: Sancocho trifásico

Danilsa Granados se inscreveu em nome do coletivo Corporación de Inmigrantes Unidos Los Lagos, formado por Nelly e Argenis Madroñero, Maritza Valle Cárdenas, Consuelo Ruiz H., Priscilla De Assis, Cristobalina Amador, Sara Soto Rodriguez, Claudio Oyarzun F. e Bernardita Zuñiga. O grupo pretendia apresentar oito receitas (sancocho trifásico, roupas velhas, feijoada, manga, sopa paraguaia, cancato de salmão, contas e medialunas, arroz com frango e batata ao molho rocoto), mas como o sistema só permitia uma foto, apresentaram a do sancocho trifásico, proposto pelas irmãs colombianas Nelly e Argenis Madroñero.

Nelly e Argenis nasceram no departamento de Cauca, região do Pacífico, sudoeste da Colômbia. Elas moraram no departamento de Putumayo, na região amazônica, e depois retornaram ao Valle del Cauca, onde durante 10 anos tiveram um restaurante de comida caseira. “Vir para o Chile foi uma decisão difícil, mas queríamos um futuro melhor para a nossa família. Escolhemos Puerto Montt porque nos disseram que era uma cidade tranquila e com ótimas oportunidades de trabalho. Já faz 2 anos e meio que criamos uma nova vida aqui neste lindo país, mas com o coração na nossa terra”, comentam.

Na inscrição que enviaram ao concurso, elas dizem que o sancocho faz parte da vida delas desde crianças, pois os pais o preparavam quando se reuniam em família, principalmente em datas especiais, como 25 de dezembro ou 1º de janeiro. “A família se reunia no quintal, acendia um fogão a lenha e fazia uma grande quantidade de sancocho para todos. Aos domingos íamos tomar banho nos rios e riachos e fazíamos o famoso ‘passeio da panela’, acendendo a fogueira na margem do rio. No nosso restaurante na Colômbia o prato principal era o sancocho trifásico e graças a esta deliciosa receita pudemos sustentar a nossa família. Essas experiências trazem muitos sentimentos e lindas lembranças, e aqui no Chile também fazemos isso quando toda a família está reunida no domingo.”

Acredita-se que a origem desta preparação tenha sido influenciada por pratos como o cozido espanhol, a olla podrida espanhola ou o ajiaco taíno, uma vez que estes pratos tinham a característica de “jogar na panela tudo o que estava disponível”, devido à falta de suprimentos. O sancocho é considerado um dos pratos típicos da gastronomia colombiana. Geralmente é consumido no almoço, como prato principal, ou nos famosos “passeios de panela”.

Em cada região do país, o sancocho tem seu tempero tradicional, e foi no departamento de Antioquia, onde se originou, comumente chamado de sancocho de três carnes ou sancocho trifásico, devido à tripla combinação de carnes: bovina, suína e frango. É servido acompanhado de banana, arroz e abacate. E para beber, suco natural de frutas cítricas, ou de preferência, água de panela (chancaca) com limão e muito gelo.

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Conheça a receita

*Comunidade com a qual a prática será compartilhada: A ideia do coletivo Corporación Imigrantes Unidos Los Lagos é compartilhar a prática das 8 receitas que pensaram inicialmente em diferentes locais da Comuna de Puerto Montt, capital da Região de Los Lagos. Entre elas, a sede de 8 JJVV, Associações de Moradores de 8 bairros da cidade de Puerto Montt, com a participação de 50 moradores dos setores escolhidos, num total de 400 pessoas, entre migrantes e chilenos.


6. Nome: Pedro Miguel Torres Martínez

* País de nascimento: Venezuela

* País de residência: Colômbia

*Nome da receita: Cuajao venezuelano

Migrante venezuelano residente na Colômbia, em Malambo-Atlántico, o gestor cultural Pedro Miguel Torres Martínez apresenta o cuajao, um prato importante na gastronomia venezuelana porque costuma reunir toda a família em torno dele, gerando espaços de integração, convivência e unificação.

“É um prato que se prepara em conjunto, a cada membro da família é atribuída uma tarefa no preparo, gerando risos, lembranças, histórias que se replicam de geração em geração e que agora com a migração continua sendo feito em outros locais, um prato que traz memórias daqueles tempos”, afirma.

O cuajao venezuelano é importante no local que o acolheu (El Pasito-Malambo) na Colômbia, pois ali teve a oportunidade de realizar diversas atividades “que condensam o sentimento de migração e identidade venezuelana”, como oficinas, projetos culturais e de trabalho social que visam recuperar um território e reconstruir um tecido social em torno de indivíduos envolvidos em processos migratórios. 

Conheça a receita:

* Comunidade com a qual a prática será compartilhada: Esta receita será compartilhada na comunidade do bairro El Pasito, no município de Malambo-Atlántico. Ali residem 40 famílias de migrantes venezuelanos e “colombianos retornados”, é um bairro denominado “invasão” que fica no entorno da Ciénaga Grande de Malambo. Este território é relevante dentro da proposta culinária, pois é o local onde Pedro Miguel se instalou quando chegou à Colômbia, onde tem conseguido construir relações sociais e realizar projetos culturais em torno da migração.


7. Nome: Carlos Alvarado

* País de nascimento: El Salvador

* País de residência: Estados Unidos

*Nome da receita: Pupusas del campo

Em 1996, aos 17 anos, Carlos Alvarado emigrou do interior salvadorenho para os Estados Unidos, junto com sua família. Trabalhou como cozinheiro em diversos restaurantes de alta gastronomia e em sua busca por recriar a comida caseira do interior salvadorenho, em junho de 2016 abriu as portas de seu primeiro restaurante na região metropolitana de Washington D.C. Ele mora na cidade de Hyattsville, Maryland.

No restaurante, a receita que Carlos mais desenvolveu foram as pupusas, tradicional tortilha grossa à base de milho com massa de arroz recheada que chamou de “pupusas do campo” pela reminiscência do seu local de origem e por ser uma receita herdada da sua mãe, transmitida de geração em geração. As pupusas do campo podem ser feitas com queijo, loroco, chicharrón, feijão, jalapeño, espinafre ou frango.

A prática culinária das pupusas do campo, segundo ele, desenvolve-se em diversas áreas, desde ajuda comunitária a centros de saúde, escolas, e apoio a eventos sociais. “Existem muitas teorias de que as pupusas nasceram em El Salvador, mas damos a elas um sabor único que remete à típica comida caseira salvadorenha”, afirma. A receita apresentada tem o recheio de abóbora, para o qual são utilizadas 3 abóboras, 8 alhos, ½ cebola e tomilho.

⇒Conheça a receita:

* Comunidade com a qual a prática será compartilhada: A receita das pupusas do campo será compartilhada com a comunidade do Corpo de Bombeiros Voluntários de Hyattsville. “Acreditamos que o trabalho deles é de grande valor e queremos homenageá-los com refeições requintadas. Propomos também ensinar a receita na língua deles, e poder transmitir-lhes os nossos valores inscritos numa receita que continuará a ser transmitida de geração em geração”, afirma Carlos.


8. Nome: Fátima Del Valle Martinez Saturno

* País de nascimento: Venezuela

* País de residência: Colômbia

*Nome da receita: Guasacaca

Fátima Del Valle chegou da Venezuela em fevereiro de 2017. Um caminhoneiro a levou para a cidade de Manizales (Caldas, Colômbia) com febre alta e sua família a acolheu por um ano e três meses. Lá começou a trabalhar como vendedora ambulante no Parque Alfonso López, vendendo vinho tinto e produtos venezuelanos. Em 2021 ingressou na associação de vendedores informais do parque e na associação de jardineiros urbanos da Prefeitura.

No parque ela vende empanadas venezuelanas acompanhadas de guasacaca, no segundo encontro de jardineiros urbanos. “A aceitação da minha receita me faz pensar em produzir e embalar manualmente”, diz. Guasacaca é um molho que está sempre presente nas mesas em sua cidade, acompanhando empanadas e também arepas recheadas.

Esse molho foi ensinado por sua mãe quando ela era criança em Calabozo, no estado de Guaricó. “Como migrante trabalhei como vendedora ambulante de tinto, pintadito e empanadas venezuelanas acompanhadas de guasacaca, o que me faz sentir uma profunda gratidão por esta preparação, além da memória do meu país e da minha família, porque graças a ela tenho conseguiu sobreviver”, afirma.

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Conheça a receita

*Comunidade com a qual a prática será compartilhada: No terceiro encontro de horticultores urbanos, em conjunto com a Secretaria de Agricultura da Prefeitura de Manizales e a Universidade Autônoma de Manizales, pretende-se realizar uma aula ou demonstração ensinando como preparar a guasacaca. Estima-se que se reúnam entre 70 e 100 pessoas, que vão refazê-la nos seus jardins, casas e com as suas famílias, multiplicando o alcance desta receita venezuelana, que combina bem com produtos colombianos ou venezuelanos.


9. Nome: Mariana Ísis Salas

* País de nascimento: Venezuela

* País de residência: Uruguai

*Nome da receita: Arepas de maíz pilado en budare de barro

Venezuelana apaixonada por geografia e culinária, Mariana Isis Salas adora combinar sabores, texturas, cheiros e cores na cozinha. Ela mora há mais de 10 anos em Montevidéu, no Uruguai, país onde há 61 mil migrantes segundo o Censo de 2023. “Muitos uruguaios se aproximaram da gastronomia venezuelana e colombiana, e especificamente da arepa. (…) Queremos difundir o uso do milho combinando outros sabores, e valorizando como as arepas podem ser feitas com o milho que compramos nos mercados e feiras”, comenta.

Nesta edição do concurso, Mariana relembra uma prática da avó: arepas de milho piladas em budare de barro. “Na minha casa e na casa da minha avó tinha um pilão, um pilão que já era usado como enfeite, porque não usávamos para “pilar” o milho. As arepas de milho pilado era um presente que minha avó Juba nos dava quando queria mimar os netos”, conta, destacando que a industrialização da farinha de milho substituiu o uso do milho pilado pela farinha de milho pré-cozida.

“Hoje queremos relembrar essa prática pilando milho e fazendo arepas em budare de barro, outro elemento da cultura gastronômica latino-americana. Conhecido pelos centro-americanos como ‘comal’, o budare ou aripo da cultura venezuelana é um utensílio de cozinha tradicionalmente usado para cozinhar, torrar, aquecer arepas, grãos de café, legumes”, detalha.

A proposta inclui a realização de uma oficina prática de arepas de milho pilado confeccionadas em budare de barro com aproximadamente 30 pessoas. Nesta oficina serão feitas arepas com a receita tradicional de milho pilado e sua versão com farinha de milho pré-cozida. Também estava nos planos realizar um debate e contar sobre o processo de elaboração do barro uruguaio budare como produto que fortalece a cultura da cerâmica, finalizando com uma degustação e uma exposição cultural convidando artistas da Venezuela e da Colômbia.

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Conheça a receita

* Comunidade com a qual a prática será compartilhada: A receita será preparada e multiplicada nos espaços associados à Plaza de Las Misiones, em apoio ao trabalho comunitário realizado pela Comissão de Bairro da Plaza de Las Misiones e Goes Migrante. A Plaza de Las Misiones é um espaço que se tornou um local de referência para as comunidades migrantes, realizando atividades anuais dirigidas às populações migrantes.


10. Nome: Laura Herrera

* País de nascimento: México

* País de residência: México

*Nome da receita: Orejones de calabaza

Laura Herrera é afro-mexicana da tribo Negros Mascogos e cozinheira tradicional da cidade de Melchor Múzquiz (Coahuila). Em sua postulação ao concurso, ela diz que seu objetivo é que meninos e meninas aprendam a plantar, cuidar e colher os alimentos de seus antepassados, a fim de prevenir doenças como diabetes e hipertensão. A receita apresentada nesta convocatória, “orejones de calabaza”, foi aprendida com sua avó. “Quando o céu começava a ficar nublado, minha avó colocava os orejones secos dentro de casa, perto do fogão a lenha. Eles ficavam pendurados nas vigas do teto e, quando encharcados pela fumaça, tornavam-se enfumaçados. É um sabor que nunca esquecerei”, comenta.

Ela explica que o processo dos orejones começa com o preparo do terreno e o plantio da semente de abóbora doce em meados de fevereiro. “Quando a semente germina, a planta pode crescer naturalmente por aproximadamente três semanas. Depois deve-se retirar qualquer grama ou outras plantas que tenham crescido ao seu redor. A planta é irrigada (geralmente com água de rio ou chuva). Depois de três meses teremos abóbora tenra para fazer orejones secos salgados. Em cinco meses teremos abóbora doce madura para fazer orejones secos no outono e inverno, estação extremamente fria em nossa região”, detalha.

Segundo Laura, a limpeza da abóbora deve ser feita retirando-se a casca, as sementes e os veios. Os cascos devem ser deixados secar por dois ou três dias; Depois de arejados, são cortados em tiras para secar em uma corda como um varal. Os orejones de abóbora, explica, podem ser cozidos de duas maneiras: doce ou salgado. “Você pode fazer caldos com carne de porco e vegetais como pimentão, tomate, cebola, alho e milho. Já para torná-los doces, você pode adicionar piloncillo, açúcar, canela, erva-doce e cravo para fazer geleia de abóbora”, ressalta.

A mexicana explica ainda que a tradição de desidratar as abóboras para armazená-las e depois utilizá-las em tempos de escassez foi adotada por seus ancestrais, os índios Seminoles, “que nos acolheram em suas terras na Flórida (Estados Unidos) em troca de comida e alianças militares. “Este alimento foi particularmente importante numa das nossas migrações, quando os nossos antepassados ​​tiveram que abandonar aquele território porque corriam o risco de serem capturados e mortos. Em busca de um futuro melhor, nossos líderes encontraram caminhos para chegar ao México. Passando por Oklahoma, Texas e cruzando o Rio Grande para chegar a Coahuila. Nessa viagem, um dos alimentos aos quais devemos a nossa sobrevivência é a carne seca e a abóbora desidratada, já que ambos eram alimentos leves, fáceis de preparar e transportar.”

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Conheça a receita

* Comunidade com a qual a prática será compartilhada: A prática culinária será partilhada com o grupo de meninas e meninos “Amigos Mascogos”, a quem Laura Herrera ensina e partilha receitas tradicionais, como plantar e colher alimentos. O grupo é formado por um total de 35 meninos e meninas.


11. Nome: Rosa López

* País de nascimento: Paraguai

* País de residência: França

*Nome da receita: Trilogia de sabores del Chaco

 

Paraguaia residente na cidade de Le Bugue, França, Rosa López colabora com organizações e comunidades para criar experiências sensoriais, fundindo natureza, arte e cultura. “Ao explorar a riqueza gastronômica, redescubro sabores ancestrais, destacando a utilização de ingredientes autóctones como base do patrimônio cultural. Com comprometimento e criatividade, promovo uma mudança para uma alimentação consciente e ligada às raízes culturais”, afirma.

A trilogia de sabores do Chaco, prática culinária com a qual participa nesta convocatória, combina os ingredientes nativos do Chaco (mistol, algarrobo e ají del monte) e técnicas tradicionais. A trilogia inclui a chicha, uma bebida refrescante, fermentada a partir de sementes de milho com infusão de café mistol (o mistol é uma fruta característica do Chaco). “Chicha de mistol funde tradição com inovação, um equilíbrio entre o ancestral e o contemporâneo”, destaca.

O pão champanhe com farinha de alfarroba, segundo ela, é uma releitura do clássico pão champanhe francês, em que a fermentação da massa fermentada, além de lhe conferir uma textura especial, revela uma surpreendente cor roxa e um aroma de chocolate. O pão é acompanhado por paté de pato temperado com pimenta da serra.

Para acompanhar a degustação, Rosa contará com imagens da Rede de Mulheres do Chaco, protagonistas da produção desses ingredientes, e utensílios de cerâmica da comunidade Kambuchi Apo, além de uma série de desenhos feitos à mão por artistas Nivacle, além de Artesanato Nivache e Enlhet.

“Meu objetivo é promover a diversidade cultural do Paraguai na França. Esta experiência gastronómica vai além de simplesmente apresentar os ingredientes nativos do meu país. Trata-se de destacar a importância de preservar e compartilhar essas tradições culinárias, que são um testemunho vivo da identidade e da riqueza cultural enraizadas nas comunidades que habitam o Chaco”, afirma.

“Ao utilizar esses ingredientes, procuro incentivar a descoberta e o consumo desses novos sabores. Ainda que timidamente, procuro tornar visível o trabalho da Red de Mujeres del Chaco. Estas associações esforçam-se por preservar a ligação com a terra, celebrar a biodiversidade local e reconhecer o papel vital das mulheres na produção destes ingredientes excepcionais.”

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Conheça a receita

* Comunidade com a qual a prática será compartilhada: Na cidade de Sarlat – Dordonge, no centro educativo Lycée Pré de Cordy em Sarlat-la-Canéda, com a participação de cerca de 30 pessoas. Ela escolheu este local porque seria o encerramento das formações, e seus colegas e professores são do setor de hotelaria, turismo e gastronomia. “É uma forma interessante de chegar a profissionais que futuramente poderão integrar esses ingredientes em suas receitas”, acredita.


12. Nome: Yesica Santivecchi/ Comunidad Gitana Mar Del Plata

* País de nascimento: Argentina

* País de residência: Argentina

*Nome da receita: Té cigano

A receita do chá cigano foi apresentada por Yesica Santivecchi em nome de um coletivo, a Comunidade Cigana de Mar Del Plata (formada também por Fabiana Castillo, Priscila Demetrio, Rosa Demetrio e Esmeralda Demetrio). Segundo elas, o chá cigano é a infusão típica da comunidade de toda a região, receita transmitida oralmente de geração em geração. “Uma infusão que tem origem na Índia, que sofreu mutações durante a passagem da comunidade pela Europa e acaba por se configurar e adaptar aos ingredientes disponíveis na região, com a chegada do povo cigano à América Latina”, salientam.

Na Argentina, a receita é feita diariamente em todas as cozinhas ciganas. A fusão de chá preto, cravo, canela em pau e açúcar que é macerado, é servida sobre um colchão de frutas em cada copo (de vidro): banana, laranja, tangerina e maçã. O copo é servido em um pequeno prato fundo de sobremesa, onde o chá é colocado para esfriar e retirado do prato.

Na cidade de Mar del Plata, entre os mais de 13 mil ciganos/as que ali vivem, o chá é uma infusão muito consumida e representa o momento de partilha, diálogo, reflexão e planejamento de vida. É uma tradição oral, não existe material escrito ou audiovisual sobre este costume e receita, sua preparação é um momento de aprendizagem e troca entre os adultos e os mais jovens da comunidade.

  Fabiana Castillo, no vídeo enviado para o concurso, explica como é preparado o chá. Ela conta que é cigana e aprendeu a receita do chá com a mãe e as tias, que o preparavam em sua casa na província de Chaco. “É minha responsabilidade e orgulho ensinar aos meus filhos, filhas, noras, genros, netos e netas esta receita que tanto representa a nossa identidade como povo cigano”, destaca.

Priscila Demétrio, de 15 anos, aprendeu com Fabiana e diz que adora preparar e compartilhar com familiares e amigos. “É muito saboroso e típico. A combinação com as frutas gera um sabor diferente. Além disso, é um pretexto para se reunir e é um gesto de hospitalidade. Numa casa cigana nunca falta o chá típico. É o nosso orgulho”, afirma.

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Conheça a receita:

*Comunidade com a qual a prática será compartilhada: Partilhar o chá cigano, segundo elas, é um pretexto para aproximar a comunidade cigana da comunidade crioula do bairro, “no sentido de promover encontros e contribuir para a erradicação da discriminação étnica e cultural”. A proposta é realizar seis atividades onde a receita será compartilhada em instituições de ensino do bairro (casa comunitária do Marea, escola primária 41 e escola secundária 56), com registro audiovisual da experiência e festival de encerramento aberto a toda a comunidade marplatense.


13. Nome: Yorely Paola León Caicedo

* País de nascimento: Colômbia

* País de residência: Chile

*Nome da receita: Arepa con chocolate colombiano

A arepa com chocolate, apresentada por Yorely Paola León Caicedo, é um alimento consumido em todos os departamentos colombianos, mudando um pouco os ingredientes e a forma de preparo. É um produto que, segundo ela, têm apresentado à comunidade chilena para consumir em diversos horários do dia, principalmente no café da manhã ou no chá da tarde. Sendo a base da gastronomia colombiana, é um prato que pode ser servido sozinho ou em conjunto com outros alimentos. Yorely é colombiana e mora no Chile, em Alto Hospicio, comuna da província de Iquique, localizada na região de Tarapacá.

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Conheça a receita

* Comunidade com a qual a prática será compartilhada: A prática será compartilhada na Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, no Alto Hospicio, que abriga um refeitório para crianças chilenas e estrangeiras, principalmente meninos e meninas de países vizinhos, como Bolívia e Peru.

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