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Oralidade escrita: histórias e costumes dos povos Qom, Wichí e Pilagá reunidos em livro
Em 03, maio 2017 | Em Notícias |
A avó que virou tamanduá porque não deu ouvidos à advertência que fizeram para que não olhasse para o fogo. A mulher que não deixavam sair da cabana e que uma noite se apaixonou por uma cobra. O homem que se transformou em leão e comeu todos que viviam na sua colônia. O caçador que saiu para buscar alimento em um dia de chuva e encontrou Pelhay, o Espírito dos Céus e senhor dos raios.
Estas são algumas das histórias recompiladas no livro do projeto “Oralidade escrita”, um dos selecionados no Edital IberCultura Viva de Intercâmbio, edição 2015. A publicação já está disponível em sua versão digital.
O projeto, executado pela Fundación Abriendo Surcos (Argentina) e o Coletivo Aty Sâso (Brasil), promoveu um concurso literário de lendas dos povos originários na província de Formosa, na Argentina. Foram recebidos mais de 70 relatos de três etnias: Qom, Wichí e Pilagá.
Os textos ganhadores do concurso – e que estão reunidos na publicação – foram produzidos por estudantes secundaristas de escolas públicas de modalidade intercultural bilíngue. A entrega dos prêmios se deu no Dia Internacional das Populações Indígenas, em 9 de agosto de 2016, na escola EIB N°6 Cacique Kanetori, em Bartolomé de las Casas (Formosa).
As línguas
Com 96 páginas, o livro do projeto reúne histórias e costumes dos povos Qom, Wichí e Pilagá contadas em suas línguas originárias, com traduções para o espanhol e o português. Os relatos estão divididos por povos/línguas.
Juliana Kase, responsável pela montagem (com Zenaide Basilio), utilizou como referência para a capa o Mapa Interativo de Línguas em Perigo da Unesco, o site do Programa Sorosoro e do Instituto Socioambiental/Pueblos Indígenas. Os desenhos são de Gabriel Palma e Gero Ruiz.
Os textos
Como explica o professor Raúl Adrián Aranda, coordenador da equipe de Educação Intercultural Bilíngue da província de Formosa, os textos que compõem o livro se referem em alguns casos a um trabalho de criação autônoma ou coletiva, a registros de oralidade de pesquisas culturais, ou mesmo à recuperação de textos anteriores existentes na comunidade.
“Em todos os casos tratam-se de trabalhos escolares produzidos com a intenção manifesta de dar valor aos escritos em línguas originárias e aos conhecimentos e saberes culturais da comunidade. A difusão e publicação destes textos contribui para a continuidade dessa tarefa pedagógica didática para a comunidade em seu conjunto”, ressalta o professor.
Daniela Landin e Jairo Araldi, representantes do coletivo brasileño, contam que não queriam limitações referentes a gênero literário. “Determinamos que é um livro de tradições orais, crendo que as classificações são modos impostos por pesquisadores e as definições entre conto, lenda, anedota, relato mitológico, poema, discurso de sabedoria, entre outros, não são um fator importante para a valorização de uma cultura”, justificam na edição. Esta seria uma maneira, segundo eles, de legitimar o lugar da “conversa” dos jovens nativos que produziram o livro.
A leitura
No dia 16 de junho, às 18h30, haverá uma leitura de relatos no Centro Cultural Brasil-Argentina (Avenida Belgrano, 552), em Buenos Aires. Os relatos em espanhol serão lidos por crianças e adolescentes bolivianos ou descendentes de bolivianos que realizam um programa na rádio “Aires del Sur”, dentro das atividades da Fundación Comunitaria Cruz del Sur, em Liniers, Buenos Aires. As versões em português ficarão por conta da psicóloga brasileira Lana Caetano Vaz, que há um ano vive na Argentina.
Para baixar:
https://iberculturaviva.org/wp-content/uploads/2017/05/Oralidad-escrita-digital.pdf
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