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Arquivos Conselho Intergovernamental - Página 2 de 2 - IberCultura Viva

23

nov
2017

Em Notícias

Por IberCultura

8ª Reunião do Conselho Intergovernamental: três anos de avanços e construções coletivas

Em 23, nov 2017 | Em Notícias | Por IberCultura

O Conselho Intergovernamental IberCultura Viva realizou sua 8ª Reunião nesta terça-feira (21/11), na sede do Ministério de Cultura e Patrimônio do Equador, em Quito, durante o 3º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. Participaram do encontro representantes de governos de oito países membros do programa: Argentina, Brasil, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Peru e Uruguai.

Além de aprovar o  Plano Estratégico Trianual (2018-2020) e o Plano Operativo Anual 2018, os participantes falaram sobre a Rede de Cidades que o programa IberCultura Viva tenta articular e discutiram o edital de bolsas para o curso de pós-graduação em políticas culturais de base comunitária que se pretende lançar em dezembro de 2017. A jornada também foi de boas-vindas ao Equador, que se somou ao programa em outubro, junto com a Guatemala, e participou pela primeira vez de uma reunião do Conselho Intergovernamental.

 

Intercâmbio de experiências

A vice-ministra de Cultura e Patrimônio do Equador, Andrea Nina, deu início à reunião falando da importância do fortalecimento da cultura comunitária em um país diverso como o Equador, “que tem desenvolvido espaços culturais comunitários muito importantes” com o trabalho cidadão, para além das gestões de governos. “Para nós, é importante aprender com as experiências que vêm sendo desenvolvidas em outros países. A cooperação técnica nos permite aprender com os erros e os acertos”, comentou.

Em seguida, Moni Pizani, diretora sub-regional da Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB) para os países andinos, celebrou a adesão do Equador a IberCultura Viva e lembrou a aprovação da criação do programa, na XIII Cúpula de Chefes de Estado e de Governo realizada na Cidade do Panamá em 2013. “Desde então se avançou muito neste caminho”, afirmou.

Segundo Pizani, “através de espaços como estes, contando com o esforço de todos e remando em um só sentido, faremos surgir propostas que nos permitam avançar na modalidade de envolver as comunidades como artífices de seu próprio modelo de desenvolvimento cultural, para um modelo exitoso de integração dos povos ibero-americanos”.

Construção coletiva

Diego Benhabib, coordenador do Programa Puntos de Cultura da Argentina e representante da presidência do Conselho Intergovernamental, também reforçou os avanços de IberCultura Viva desde sua implementação, em 2014. “Em três anos percorremos um caminho intenso, com muitas atividades e interessantes articulações com a sociedade civil”, destacou, ressaltando também o espírito colaborativo do Conselho e a vontade de trabalhar em conjunto com as organizações, redes e movimentos, “respeitando sua autonomia, seus espaços e formas de construção”.

Benhabib lembrou também a iniciativa do Conselho Intergovernamental de fomentar os congressos nacionais preparatórios ao 3º Congresso Latino-americano, por meio do Edital IberCultura Viva de Apoio a Redes 2016. Falou, ainda, do desafio de gerar a primeira rede de cidades e províncias ibero-americanas e concretizar ações com as instâncias municipais e estaduais para a expansão das políticas públicas de base cultural comunitária em nível local. “Buscamos elaborar mecanismos de adesão para que as cidades possam se ver refletidas nos fazeres culturais dos nossos estados nacionais, e também possam desenvolver sua própria política”, acrescentou.

Conquistas das redes

Além dos representantes governamentais e da SEGIB, a reunião contou com a presença de quatro membros de redes de cultura viva comunitária que participaram da organização deste 3º Congresso Latino-americano de CVC: os equatorianos Nelson Ullauri e Paola de la Vega, o colombiano Jairo Castrillón Roldán e o brasileiro Alexandre Santini.

Nelson Ullauri ressaltou uma das conquistas da Rede Equatoriana de CVC: a inclusão da cultura viva comunitária como um dos princípios fundamentais da Lei Orgânica de Cultura, publicada em dezembro de 2016 também com um artigo que trata da implementação de uma rede de gestão cultural comunitária para “a democratização da cultura e do exercício dos direitos culturais”. “Apostamos muito nisso porque acreditamos que este processo de construção da rede de gestão tem que se constituir em um protótipo ou um modelo de construção de política cultural”, explicou.

Paola de la Vega, pesquisadora de gestão em políticas culturais e também integrante da rede equatoriana de CVC, contou que no Equador se está trabalhando na formação de uma rede de universidades pela cultura viva comunitária. “Nos espaços acadêmicos estamos contribuindo com linhas de debate, em um marco teórico que ajude o movimento em suas negociações e dinâmicas, em uma relação diferente entre universidade e comunidade”, adiantou. “Estamos aportando também ao processo de construção da Lei de Cultura.”

Ações formativas

Jairo Castrillón Roldán falou da dinâmica do mercado e do risco que traz à construção simbólica dos povos e ao direito das comunidades de ter acesso à cultura. Ao recordar a guerra vivida em Medellín nos anos 80 e 90, e os muitos que morreram “tratando de recuperar a vida de crianças e adolescentes”, chamou a atenção para as organizações que solidariamente decidem ficar nos bairros, sem visar lucros e sim a formação dos que ali vivem. E que deveriam receber uma consideração especial, um respaldo dos organismos governamentais para fortalecer seus processos nas comunidades.

“Não podemos ser vistos dentro da lógica de empresa, estamos muito mais próximos da escola que do cabaré. Somos pedagógicos, não somos espetáculos. Queremos garantir que haja gente expressiva, sensível, imaginativa, curiosa, gente com memória, com sentido de identidade, com sentido de pertencimento. Estas coisas não podem ser submetidas ao tema da rentabilidade. No entanto, são altamente rentáveis à sociedade”, afirmou Castrillón. “O investimento na ação cultural pedagógica, formativa, não é um recurso perdido, é um recurso muito bem investido nas pessoas que estão nas comunidades contribuindo para que a sociedade seja mais digna.”

Linha do tempo

Alexandre Santini, por sua vez, apresentou uma linha do tempo sobre os avanços no desenvolvimento das políticas culturais de base comunitária na América Latina, dando ênfase em como o trabalho intersetorial tem impulsado o desenvolvimento das políticas em nível nacional e multilateral, como no caso da criação do programa IberCultura Viva.

Ao destacar alguns ritos relacionados ao programa, Santini lembrou a realização dos Congressos Ibero-americanos de Cultura, como o de 2009, em São Paulo (Brasil), que teve como tema “Arte e transformação social” e foi uma incidência conjunta de governos e sociedade civil, e a edição de Costa Rica, em 2014, com o tema das culturas vivas comunitárias. “A criação do IberCultura Viva foi uma ação coordenada de governos e organizações da sociedade civil. Podemos dizer que nos necessitamos mutuamente para fortalecer este espaço”, comentou.

Planos e acordos

Terminadas as falas dos convidados, a Unidade Técnica do programa IberCultura Viva apresentou a versão final dos documentos de planejamento 2018-2020, incluindo a reformulação da visão, da missão, dos objetivos gerais e específicos do programa para o período. “Fomentar o respeito”, “criar comunidade”, “resguardar a diversidade cultural”, “impulsionar a participação” e “defender a igualdade” são os valores citados no novo Plano Estratégico Trianual.

O novo plano também redefine como missão de IberCultura Viva o “reconhecimento do valor que tem os processos de construção de cidadania e a diversidade cultural expressa na participação social organizada, para a melhora das condições de vida e da convivência das comunidades, fomentando seu desenvolvimento a partir do trabalho intersetorial e com isso sua contribuição para consolidar o Espaço Cultural Ibero-americano e a integração regional”.

 

Entre as atividades propostas para o Plano Operativo Anual (POA-2018) estão as assistências técnicas a partir do intercâmbio de agentes governamentais; o fomento a estudos e pesquisas sobre políticas culturais de base comunitária; o apoio à realização de encontros e circuitos da rede de Pontos de Cultura, Cultura Viva Comunitária ou equivalentes; a criação e construção de um marco regulatório e de um plano de ação para a Rede de Cidades IberCultura Viva, tema do 2º Encontro de Redes IberCultura Viva, também realizado em Quito durante o 3º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária.

A 8ª Reunião também com a apresentação do regulamento do edital de bolsas para a Pós-graduação em Políticas Culturais de Base Comunitária FLACSO-IberCultura Viva. Este curso, que será realizado de maneira virtual junto à Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO), sediada na Argentina, se trata de uma proposta específica de formação em políticas culturais de base comunitária, dirigida a agentes públicos da Cultura, sejam eles gestores, trabalhadores do Estado, funcionários municipais, estaduais ou federais, gestores comunitários ou membros de organizações da sociedade civil. O lançamento está previsto para 10 de dezembro e a duração deve ser de nove meses, de março a dezembro de 2018.

 

Leia a ata da 8a Reunião do Conselho Intergovernamental IberCultura Viva

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16

nov
2017

Em Notícias

Por IberCultura

Quito será sede da 8ª Reunião do Conselho Intergovernamental IberCultura Viva

Em 16, nov 2017 | Em Notícias | Por IberCultura

 

 

A 8ª Reunião do Conselho Intergovernamental IberCultura Viva será realizada em Quito (Equador) no próximo dia 21 de novembro, durante o 3º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária. Este é o terceiro encontro de representantes dos países membros do programa em 2017 e o primeiro que contará com a presença do Equador, um dos países que se somaram ao IberCultura Viva este ano, junto com a Guatemala. O anúncio da adesão dos dois novos integrantes foi feito em 15 de outubro, na 7ª Reunião do Conselho Intergovernamental, realizada em Lima junto com o 2º Encontro Nacional de Puntos de Cultura do Peru.

Além das boas-vindas oficiais ao Equador, a agenda de trabalho para a 8ª Reunião estará centrada na análise do Plano Estratégico Trianual (2018-2020) do programa e do Plano Operativo Anual 2018. Os dois temas começaram a ser debatidos no encontro anterior, em Lima, assim como o lançamento da Pós-graduação em Políticas Culturais de Base Comunitária FLACSO-IberCultura Viva 2018.

A 7ª Reunião do Conselho Intergovernamental foi realizada em Lima, em outubro

Construído ao longo de 2017, este curso se realizará de maneira virtual junto à Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (FLACSO), com sede na Argentina. Trata-se de uma proposta específica de formação em políticas culturais de base comunitária, dirigida tanto a agentes públicos da Cultura, sejam gestores, funcionários/as ou trabalhadores/as do Estado, como a gestores/as comunitários e membros de organizações da sociedade civil. A duração proposta será de nove meses, de março a dezembro de 2018, e o edital ​estará destinado aos países membros do programa IberCultura Viva.​

A 8ª Reunião também será a ante-sala da ampliação do programa na articulação com instâncias municipais e estaduais. Nos dias 22 e 23 de novembro, o programa realizará em Quito o 2º Encuentro de Redes IberCultura Viva, que estará dedicado com exclusividade à articulação de uma rede de governos locais (municipais e/ou estaduais). Nas jornadas de trabalho para constituir a Rede de Cidades IberCultura Viva participarão funcionários públicos de uma dezena de cidades da América Latina e representantes de organizações culturais comunitárias com experiências de processos de incidência na construção de políticas culturais locais.

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31

maio
2017

Em Notícias

Por IberCultura

Visitas a comunidades durante a 6ª Reunião: recuperando espaços, construindo pontes

Em 31, maio 2017 | Em Notícias | Por IberCultura

“Os velhinhos deste grupo nos divertimos/ ao diabo com a dor”, avisam os integrantes da Murga Tres de Abril àqueles que os escutam cantar e dançar. Estão juntos há uma década, desde que começaram uns cursos de teatro na vizinhança (como parte do Programa Esquinas da Cultura, desenvolvido desde 2005 pela Intendência de Montevidéu) que acabaram tornando realidade o sonho que eles tinham de subir ao palco e sair no carnaval. Alegres, de cara pintada, rindo deles mesmos em suas roupas de espetáculo, os integrantes desta “murga de avós” fizeram uma bela apresentação ao final do primeiro dia da 6ª Reunião do Conselho Intergovernamental do IberCultura Viva no Uruguai.

A apresentação da murga comunitária, na sede da Associação Civil Monte de la Francesa, no bairro Colón (Município G), encerrou a programação da quarta-feira, 24 de maio. Neste dia, terminada a sessão no Centro de Formação da Cooperação Espanhola, os participantes da 6ª Reunião do Conselho se dividiram em dois grupos para percorrer diferentes municípios do departamento de Montevidéu e conhecer algumas iniciativas de cultura comunitária desenvolvidas conjuntamente pelo Estado e pela sociedade civil.

Os grupos contavam com representantes dos países membros do programa, da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), da Secretaria Geral Ibero-americana (Segib), do Ministério de Educação e Cultura do Uruguai (MEC), do Ministério do Desenvolvimento (Mides), da Intendência de Montevidéu e a Unidade Técnica do Programa IberCultura Viva.

Enquanto metade do grupo se dirigia aos bairros Palermo/Barrio Sur, Bella Italia e Casavalle, a outra passava por Cerro, Paso de la Arena e Colón. Vários dos projetos visitados tinham uma característica em comum: funcionam em espaços que estavam abandonados, passaram por uma recuperação e hoje são geridos por vizinhos e vizinhas.

Integrantes do coral do Monte de la Francesa

 

GRUPO 1

Primeira parada: Cerro

Um dos percursos começou pelo Cerro, um dos bairros mais emblemáticos de Montevidéu, que surgiu como uma vila (fundada em 1834 com o nome de Cosmópolis), ponto de chegada de imigrantes das mais distintas procedências. No ex-Parador do Cerro, os visitantes encontraram três integrantes do coletivo Teatro para el Fin del Mundo (TFM), um programa de intervenção iniciado no México em 2012 e que tem entre suas atividades a realização de um festival artístico multidisciplinar.

Entre os princípios do TFM está a reconstrução de espaços que se encontram em condições de abandono e neles promover programas culturais. “A ideia é ressignificar estes espaços e dar-lhes visibilidade com esta característica do trabalho territorial”, explicou a coordenadora do TFM Uruguay, Susana Souto. Nas ruínas do Parador, o grupo oferece oficinas artísticas para crianças e adolescentes da zona. A Planchada e o antigo Frigorífico Castro são outros espaços do Cerro de atuação do colectivo, que hoje conta com 30 integrantes.

Além do trabalho direto com a comunidade, o TFM promove atividades voltadas aos profissionais das artes cênicas, com vistas ao intercâmbio e a experimentação entre coletivos artísticos de diferentes países. Para isso, desenvolve trabalhos de residência com grupos uruguaios interessados em intervenções artísticas, e organiza o Festival de Teatro para el Fin del Mundo, que chega à terceira edição este ano, de 1º a 5 de novembro.

 

O TFM ocupa espaços abandonados do Cerro de Montevidéu

Segunda parada: Paso de la Arena

Saindo do Cerro, os visitantes se dirigiram ao bairro Paso de la Arena, onde estavam reunidos na Casa Jovem alguns participantes do Ronda Oeste, um coletivo de organizações que trabalham com crianças, adolescentes e jovens na Zona Oeste de Montevidéu.

Considerada uma referência em termos de trabalho em rede no Uruguai, Ronda Oeste surgiu com a intenção de construir de pontes e promover atividades em comum entre aqueles que já vinham trabalhando na região, como o Liceu de Paso de la Arena, a UTU (Universidade do Trabalho do Uruguai), a Casa Jovem, a Aula Comunitária nº 4 e a Biblioteca Comunitária.Paco Espínola.

“Como organizações e projetos de trabalho, temos certa autonomia, já que existíamos antes do coletivo (…) O que tratamos de fazer com a formação do coletivo é transcender os projetos mais pontuais e gerar espaços de encontro”, afirmou Camilo Silvera, coordenador da Aula Comunitária, ressaltando que alguns dos projetos são de gestão pública (caso do liceu), e outros são de organizações que mantêm convênios com o Estado, como a Casa Jovem. A biblioteca comunitária é a única 100% gerida pelos vizinhos.

Financiado pelos fundos concursáveis do Ministério do Desenvolvimento Social, Ronda Oeste tem promovido uma série de atividades culturais na região entre os meses de setembro e dezembro. Títeres, teatro, planetário móvel, música e cinema têm chegado de forma gratuita a diferentes bairros do Oeste montevideano por meio deste projeto conjunto das organizações.

Visitantes e integrantes do coletivo Ronda Oeste, na Casa Jovem

 

Terceira parada: o castelo

Castillo Idiarte Borda

A terceira parada do percurso foi num castelo que começou a ser construído na Villa Colón em 1896, a mando do então presidente da República, Juan Idiarte Borda. Pensado em viver ali os meses de primavera e verão, Borda encomendou uma mansão em estilo francês, neoclássico, com cinco andares e amplos jardins, mas não chegou a ver o edifício terminado. Vítima do único magnicídio registrado na história del Uruguay, foi assassinado por um tenente em agosto de 1897. Levou uma bala no coração, em frente ao Club Uruguay.

Após décadas de histórias de fantasmas, luzes nas janelas das torres, invasão de indigentes e outros casos mal-assombrados, o Castillo Idiarte Borda passou a funcionar como um centro cultural que oferece atividades gratuitas aos vizinhos, como oficinas de teatro, balé, percussão, piano, violão, ginástica, karatê e filosofia. A casa é propriedade de uns espanhóis e esteve abandonada por muito tempo, até que a Comissão do Patrimônio Cultural da Nação a recebeu em comodato e passou a financiar sua manutenção, os gastos de energia elétrica, água, e a segurança. A Intendência de Montevideo colabora com seu programa Esquinas, cedendo professores para algumas disciplinas artísticas.

Quem administra o espaço é um grupo de vizinhos, que há quatro anos trabalham voluntariamente e em 2015 formaram uma associação civil. “Quando ingressamos não havia nada. A casa estava abandonada, haviam colocado fogo no piso, estava tudo muito feio”, lembrou Fabiana Scirgalea, a vizinha que atualmente responde pela presidência da Asociación de Amigos del Castillo Idiarte Borda. “Este é o orgulho maior: é um luxo que hoje as pessoas venham aqui. Não importa se têm dinheiro ou não, as portas estão abertas”.

Fabiana Scirgalea (C): “Este é o orgulho maior: que hoje as pessoas venham aqui”

 

GRUPO 2

As Usinas Culturais

A Casa de la Cultura Afrouruguaya, ponto de partida do percurso do segundo grupo, é uma construção que data de aproximadamente 1865, e que estava prestes a ser derrubada até que se conseguiu o apoio financeiro da Cooperación Española para que abrigasse este espaço da coletividade afro do Uruguai. A casa está aberta desde dezembro de 2011, como uma instituição sem fins lucrativos dedicada a promover o conhecimento, a valorização e difusão da contribuição dos afrodescendentes e seu acervo histórico, assim como a criação e a recriação de suas manifestações artísticas, culturais e sociais.

A Casa da Cultura Afro-uruguaia, no Palermo

Ali também funciona a Usina Cultural Palermo, uma das 17 “Usinas Culturales” instaladas no Uruguai. Estes centros regionais equipados com salas de gravação musical e/ou equipamento para a produção audiovisual conformam um programa da Direção Nacional de Cultura que busca descentralizar o acesso à produção cultural, instalando infraestrutura a lugares que tenham um notório déficit, e dirigindo suas atividades especialmente a jovens em situação de pobreza.

Além da sala de gravação de Palermo, os visitantes conheceram a Usina Cultural Bella Italia, inaugurada em 2013 no Mercadito do bairro, e desde então administrada por uma comissão de vizinhos. As Usinas de Bella Italia e Palermo são as duas que o programa da Direção Nacional de Cultura instalou por convênio firmado com associações civis – os outros centros regionais se tratam, em sua maioria, de convênios com as intendências/prefeituras).

A Fábrica de Turismo

O grupo também passou pelo Centro Cultural C1080, no Barrio Sur, conhecido como o berço do candombe e da cultura afro-uruguaya. A associação, vinculada a uma das grandes comparsas do carnaval uruguaio (Cuareim 1080, a C1080), está sediada no edifício onde antes existia o Conventillo Medio Mundo, o cortiço “onde começou a história de amor do candombe com o Barrio Sur”, como contou o músico Miguel Almeida.

Miguel é o guía turístico da Fábrica de Cultura que organiza o “Paseo Barrio Sur Candombe – una forma de vivir y sentir”, no qual relata – a partir da história do “conventillo” e com a participação dos vizinhos – a história dos tambores e dos moradores do bairro. O Medio Mundo teve um papel tão importante na trajetória deste gênero musical no Uruguai que o Dia Nacional do Candombe é celebrado em 3 de dezembro, data em que este prédio foi demolido (em 1978).

A Fábrica de Turismo Cultural é uma das 29 Fábricas de Cultura que foram criadas no Uruguai nos últimos 10 anos, neste programa da Direção Nacional de Cultura que leva adiante espaços de formação e desenvolvimento de empreendimentos culturais. As Fábricas se dedicam a um amplo leque de artes e ofícios, desde a produção de móveis até a joalheria, passando pelo patrimônio imaterial (como no caso do turismo cultural), e este ano – como agradecimento pelo apoio recebido – foram tema do espetáculo de carnaval  da comparsa C1080.

Miguel (D) é guia turístico do Passeio Barrio Sur Candombe

O complexo Sacude

O percurso do grupo terminou no Complexo Municipal Sacude, um projeto que busca melhorar a qualidade de vida dos vizinhos e vizinhas do Município D mediante a promoção do acesso à saúde, à cultura e ao esporte (o nome “Sacude” vem daí: “salud + cultura + deporte”).

Alba Antúnez coordena o Programa Esquinas

Construído em 2010, na regularização de três assentamentos da zona de Casavalle, o Sacude é gerido por representantes da Intendência de Montevidéu e por vizinhos e vizinhas do bairro. A comissão de cogestão é o órgão máximo de decisão del complejo. É integrada por três técnicos da Intendência, responsáveis por cada uma das áreas (saúde, cultura e esporte), três vizinhos eleitos pelo bairro, também nas três áreas, um coordenador de gestão (da Intendência), um representante do Município D e um integrante do conselho de vizinhos. Todos eles têm direito a voto e as decisões são tomadas por maioria absoluta.

“A Intendência fez uma intervenção para recuperar urbanisticamente o bairro”, comentou Alba Antúnez, coordenadora do Programa Esquinas, da Intendência de Montevidéu. “Quando se recuperou o bairro e já se tinha tudo em termos de saneamento, os vizinhos tiveram acesso a um fundo próprio para construir o que lhes interessava. Os mais veteranos, basicamente mulheres, doaram este fundo para que se construísse a parte cultural do bairro. Argumentaram que sabiam o que isso devia significar para seus netos em termos de valores e integração. Do ponto de vista econômico foi mínimo o que se aportou, mas simbolicamente foi muito forte. Eles sentem que isso é deles.”

Os vizinhos do teatro

No fim dos percursos, os dois grupos de visitantes se encontraram no Teatro de Verano de Colón, onde está a Asociación Civil Monte de la Francesa. Ali, em 1997, um grupo de vizinhos soube que havia sido assinado um decreto permitindo a demolição do Teatro de Verano e decidiu formar uma comissão para tratar de evitá-la. Depois de apresentar à Intendência em 2001 um projeto que tinha como centro o teatro, esta comissão de vizinhos deu início a uma série de tarefas para recuperar o Teatro de Verano de Colón e o espaço verde em que ele se encontra, conhecido como Monte de la Francesa.

Atualmente, o teatro tem como finalidade ser um espaço aberto de uso comunitário, onde realizam oficinas gratuitas de candombe, murga, maquiagem artística, canto coral, danças, fotografia etc, financiadas por convênios com a Intendência e aportes da associação, com fundos que saem especialmente das atividades de carnaval. Também se organizam no local rodas de conversas, geralmente sobre temas relacionados aos direitos humanos, e  as celebrações do Dia das Crianças, com espetáculos e brincadeiras. A recuperação de valores e a promoção do respeito e da segurança são considerados pilares fundamentales para este espaço de inclusão social autogerido pelos vizinhos.

“Buscamos melhorar a zona para que a recuperação do teatro não fosse vista apenas do ponto de vista arquitetônico, e sim como uma recuperação do espaço, para que as pessoas pudessem voltar a ter o sentido de identidade e pertencimento”, destacou Luís Guerreiro, um dos vizinhos integrantes da associação. “Há 10 anos ninguém transitava por esta zona. Hoje vemos gente caminhando pelas ruas à noite. Por isso é interessante o trabalho da  comunidade, a autogestão dos espaços. Além de ter a capacidade de identificar os problemas que têm, as pessoas encontram soluções para eles. O Estado deveria prover os recursos necessários e acreditar mais na gente para melhorar ou mudar a realidade do país.”

Acreditando na gente

Os avós da murga, que pintam a cara e fazem graça das limitações da idade em suas canções satíricas de carnaval, rindo deles mesmos e realizando antigos sonhos, são também um bom exemplo do que dizia Luís: que é necessário acreditar mais na gente. Ou do que afirmou Alba Antúnez ao final da apresentação dos “viejitos” no Monte de la Francesa. “Cada vez que nos aproximamos dos vizinhos, há uma força que estamos obrigados a não perder nunca. Devemos ter sempre presente que o que vale é isso: a gente, o ser humano. Somos nada mais que humanidade caminhante. E esta é nossa grandeza.”

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26

maio
2017

Em Notícias

Por IberCultura

6ª Reunião do Conselho Intergovernamental: Argentina assumirá a presidência do programa

Em 26, maio 2017 | Em Notícias | Por IberCultura

A Argentina terá a presidência do programa IberCultura Viva nos próximos três anos. A decisão foi tomada por consenso por representantes de governos de oito países nesta quinta-feira (25), ao final da 6ª Reunião do Conselho Intergovernamental IberCultura Viva, realizada em Montevidéu, Uruguai. O Brasil esteve à frente do programa desde o início de sua implementação, em 2014. Além de responder pela presidência, a Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SCDC/MinC) abrigou a Unidade Técnica do IberCultura Viva nestes primeiros três anos do programa. Com o fim do mandato, decidiu-se que a Unidade Técnica também deixará Brasília em julho de 2017, passando a ter como sede a cidade de Buenos Aires.

A função da vice-presidência, que vinha sendo exercida pela Argentina desde 2016, será dividida por dois países — Chile e Uruguai — até junho de 2020. O governo chileno responderá pela primeira metade do mandato, até o fim de 2018. Ao governo uruguaio caberá a segunda metade. O Comitê Executivo, que acompanha a Unidade Técnica na execução dos trabalhos e atualmente é integrado por Argentina, Chile e Costa Rica, será formado a partir deste ano por Brasil, El Salvador e Peru. Uruguai e Chile, nos períodos em que não estarão encarregados da vice-presidência, se somarão ao trio de países do Comitê Executivo.  

A programação da 6ª Reunião do Conselho Intergovernamental começou na manhã de quarta-feira (24), no Centro de Formação da Cooperação Espanhola em Montevidéu, e terminou nesta sexta (26) com um encontro de representantes de organizações uruguaias que trabalham com cultura comunitária no Centro Cultural Mistério. Cerca de 100 pessoas, entre gestores públicos e participantes de coletivos, estiveram reunidas ao longo do dia em torno das mesas de trabalho “Participação nos contextos de cultura comunitária” e “Formação nos âmbitos da cultura comunitária”. O encontro marcou o início do que se pretende ser uma construção coletiva — do governo uruguaio com a sociedade civil — em torno de um programa “Puntos de Cultura” no país.

Participantes da 6ª Reunião no Centro de Formação da Cooperação Espanhola em Montevidéu (Foto: Clara Belda/CFCE)

Dois dias de avaliações

Nos dois primeiros dias da reunião do Conselho em Montevidéu, foram apresentados informes de desempenho técnico e financeiro do programa no período de 2014 a 2017, análises dos editais de Intercâmbio e Apoio a Redes (lançados, respectivamente, em 2015 e 2016), propostas de plano operativo para os próximos seis meses, as linhas de ação e os objetivos estratégicos para o triênio seguinte.

Na abertura do evento, Débora Albuquerque, secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura do Brasil e presidente do Conselho Intergovernamental, ressaltou a importância do encontro e a diferença deste para os cinco anteriores. “Estamos terminando o primeiro mandato e este é o momento de fazer avaliações, análises e reflexões, dos avanços do programa neste primeiro triênio. Sabemos que o Brasil é protagonista nesta política (de Cultura Viva), mas ainda precisamos avançar muito, e este programa traz a possibilidade real de intercâmbio, para trocar experiências e crescer, poder fomentar e estimular as culturas de base comunitária da região”, afirmou.

A mesa de abertura: Sergio Mautone, Débora Albuquerque, Ricardo Ramón e Marcos Acle

Além da secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do MinC, participaram da mesa de abertura Sergio Mautone, diretor de Cultura do Ministério de Educação e Cultura do Uruguai; Marcos Acle, gerente de Cooperação do Escritório Sub-Regional da Secretaria Geral Ibero-americana (Segib), e Ricardo Ramón Jarne, diretor do Centro de Formação da Cooperação Espanhola. Representantes de governos de oito dos nove países membros do programa IberCultura Viva estavam presentes: Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, El Salvador, Espanha, Peru e Uruguai. 

Programa de formação

Uma das propostas apresentadas no primeiro dia de encontro do Conselho foi a de um programa de formação IberCultura Viva a ser desenvolvida nos próximos meses: um projeto de formação em políticas culturais de base comunitária dirigido a organizações, agentes e coletivos culturais (por meio de uma convocatória para projetos nacionais, bilaterais ou multilaterais), e outro voltado para gestores públicos (um curso virtual internacional). A proposta, elaborada pela Unidade Técnica do programa, teve como base um levantamento de 107 cursos de formação em políticas e em gestão cultural identificados em 17 países do Espaço Cultural Ibero-americano.Também foram discutidas colaborações com outros programas ibero-americanos de cooperação, como Ibercozinhas, Iber-rutas  e Televisão Educativa Ibero-americana (TEIB), e com a organização do 3º Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, que será realizado entre os dias 20 e 25 de novembro de 2017 no Equador.

Equipe Segib: Jacqueline Maitza, Gabriela García e Marcos Acle

Além disso, os participantes da reunião decidiram por consenso que a administração do fundo IberCultura Viva, atualmente a cargo da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI – Escritório Regional de Brasília), passará a ser responsabilidade da Secretaria Geral Ibero-americana, por meio do Escritório Sub-Regional do Cone Sul da Segib, sediado no Uruguai. O fundo é formado pelas cotas pagas anualmente pelos países membros do programa (os valores estabelecidos variam de país para país).

No encerramento da reunião dos representantes do Conselho, nesta quinta-feira (25), Diego Benhabib, coordenador do programa Puntos de Cultura da Argentina, agradeceu a confiança dos países membros e “a generosidade do Brasil”, e falou da responsabilidade de assumir a presidência neste momento. “É um compromisso que fomos construindo ao longo dos anos e esperamos estar à altura do que o Brasil tem significado para este processo. Queremos poder dar nosso aporte também e depois de três anos achar um outro país em condições de assumir isso, trabalhando coletivamente para fortalecer as políticas de base comunitária nos países da região e fazer crescer esta política na Ibero-América”.

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